A Guarda Negra da Princesa Isabel

Princesa Isabel ao centro.

Princesa Isabel ao centro.

Este grupo foi instalado em 10 de fevereiro de 1889, na casa nº 4, da rua Voluntários da Pátria, com queima de fogos, grandes discursos e comparecimento numeroso. Alistaram-se no Clube da Guarda Negra, no primeiro dia, quinhentas pessoas. E tinha como patrona a Princesa Isabel, o que foi permitido, sem dúvida, para popularizar a imagem da Princesa Isabel, fortalecendo a relação desta população recém liberta com a monarquia.

Segundo Câmara Cascudo, os negros libertados foram arregimentados por todo o país, e passaram a ser orientados pelos políticos do Partido Conservador, que pretendia combater as ideias republicanas. Porém esta atuação conservadora não impede a fala do presidente nacional do grupo, Clarindo de Almeida, no Rio de Janeiro, que dizia: "O nosso fim não é levantar o homem de cor contra o branco, mas restituir ao homem de cor o direito que lhe foi roubado de intervir nos negócios públicos", (jornal Cidade do Rio em 3 de janeiro de 1889).

A guarda, portanto, seria um novo lugar de atuação política de homens negros, como as irmandades negras foram durante o período colonial para os escravos. José do Patrocínio, um abolicionista, conservador e monarquista, afirma no Cidade do Rio, (publicação da qual era dono e diretor): "É preciso que se saiba bem que a Guarda Negra se organizou para resistir e não para atacar". Contudo, Patrocínio afirma que há muita raiva entre os negros que precisará ter um canal para fluir. A violência da guarda tinha um motivo para existir. Havia um combate para ser vencido em nome da coroa.

A diretoria, à época da fundação, em Natal, se compunha do senhores Malaquias Maciel Pinheiro, como presidente; Antônio José Coelho, como seu vice; Samuel Martins Caldas e Frederico Teodoro de Souza como primeiro e segundo secretário, respectivamente; e Manoel Peregrino do Nascimento como seu orador oficial. O clube tinha três comissões: uma executiva, que planejava as ações, formada por cinco homens; uma chamada de sindicância, também composta por cinco homens; e a de prontidão, também com cinco homens, que era responsável por aqueles que estavam prontos para “defender a coroa imperial, a pau, navalha e capoeira” (Câmara Cascudo. História da Cidade do Natal, p. 371).

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Na ata de fundação, os nomes de batismo na capoeira, seus apelidos, como José Carlos “Pequeno”, João Guimarães da Silva “Goianinha”, João Juvêncio Tacino “Bicho Feroz”, Antônio Minerva “Tição”, Joaquim Honório “Honra e Glória”, Jorge O’Grady Lopes “Trovão”, Napoleão da Fé “Renegado”, Heronides “Macaca”, Francisco Gomes Patacho “Ronha” e Manoel Onofre Pinheiro “Tramoia” estão registrados. Mas como afirma Humberto Machado, as acusações de vínculos com a capoeiragem aos membros da Guarda Negra, na verdade prejudicava o grupo, era uma clara “estratégia para desqualificar o movimento, visto que os capoeiras eram identificados como desordeiros que provocavam arruaças na cidade”.

“A ação dos capoeiras e a sua arte no manejo de armas, em especial a navalha, nas correrias pelas ruas da cidade provocavam sobressaltos nos governantes e na população de uma maneira geral. As maltas de capoeiras traziam muita insegurança, agravada pelo próprio caráter da sociedade escravista e a especificidade de mobilidade do escravo urbano” (Humberto Machado).

A capoeira foi criminalizada em 1890, com a Proclamação da República, com pena de exílio em Fernando de Noronha para aqueles que fossem encontrados treinando essa arte marcial africana. A decisão de tornar crime, segundo Carlos Eugênio Soares, tem profunda relação com a participação dos soldados negros na Guerra do Paraguai. A capoeira era uma técnica extremamente perigosa para estar nas mãos de uma população que se temia tanto: o negro pobre.

“A volta para casa foi recebida em triunfo. Saídos como marginais, obrigados a assentar praça nas fileiras de um desacreditado exército, eles retornaram como heróis. Alguns cobertos de medalhas, muitos libertos da escravidão pelo“tributo de sangue” ao servir nas forças armadas (escravos eram alforriados antes de ingressarem no serviço militar).Desmobilizados, estavam de novo nas ruas, alguns querendo reaver os territórios perdidos após a remessa para o front” (Carlos Eugênio Soares)

A criminalização dos capoeiras também tornou a Guarda Negra ilegal, e com isso os republicanos impediram que os homens negros se organizassem e participassem politicamente da nova nação que estava sendo construída..

Para Saber Mais:

Câmara Cascudo. História da Cidade do Natal. Cap. XXXVII: Abolição e República.

Carlos Eugênio Soares. A guarda negra: a capoeira no palco da política.

Clícia Maria Augusto de Miranda. Memórias e histórias da Guarda Negra.

Humberto Fernandes Machado. A Guarda Negra nas páginas do Cidade do Rio.

Saulo Pereira Guimarães, Negros, libertos e monarquistas.