O Arquivo Indígena do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte

Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares



Dentro de um acervo com mais de 40 mil documentos históricos, o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte possuí um conjunto muito rico de documentos que nos permitem acessar o passado de todo o Estado. Dentre esses documentos, um conjunto chama atenção. Existe uma acervo que permite acessar o passado das populações nativas do nosso Estado, coisa rara de se encontrar em qualquer arquivo pois os documentos escritos não são as principais fontes para o estudo da história indígena.

Encontram-se, guardados o arquivo do IHGRN, 175 cartas enviadas e recebidas pela Senado da Câmara de Natal, 39 termos de vereação, 15 prestação de contas das vilas da antiga província, 22 registros de batismo, 5 atas das sessões da Assembleia Provincial. E dentro destes documentos, que cobrem de 1600 a 1839, a riqueza de temas sobre a história indígena que podem ser pesquisados é impressionante.

Por causa dessa riqueza, o blog Natal das Antigas decidiu construir uma série sobre a história indígena dedicada, inicialmente, as cartas do Senado da Câmara de Natal Idealmente, exploraríamos os dezoito temas que estas missivas nos dão acesso. Como, por exemplo:

                Autonomia e Administração Indígena (explorando sobre como os indígenas eram administrados pela colônia, porém dando ênfase aos modos de resistência que a população nativa mantinha com os administradores indicados pelo governo português)

               Escravidão Indígena (explorando como o governo português escravizou as populações nativas do estado, dando ênfase ao sistema específico que se dá no Rio Grande do Norte, que é diferente do que aconteceu em outras regiões brasileiras)

               Aldeamentos (através da história da fundação dos aldeamentos indígenas temos acesso a história de inúmeras cidades potiguares como Extremoz, São José do Mipibu, Apodi, Tibau do Sul, São Paulo do Potengi e Ceará-Mirim)

                A Guerra dos Bárbaros (O tema, sem dúvida, mais explorado nas cartas e que nos permite acesso aos pormenores da guerra, como, por exemplo, as dificuldades do governo da capitania de financiar o esforço de guerra, como o próprio medo da população branca, além de podermos ver as táticas empregadas pelos indígenas)

                Índios de Serviço e Índios de Corço (os indígenas nativos do território norte-riograndense eram divididos em dois tipos na lógica produtiva, e isso fala muito sobre como essa população enfrentava os invasores portugueses)

                Os Ranchos Indígenas (um dos temas indígenas mais importantes é reconhecer os territórios que pertenciam a esses povos, e a documentação dá acesso a essas informações)

         O Tapuia Henrique, O principal Canindé ou João Fernandes Vieira, O Capitão-mor Janduí e o Sargento-mor Corema (precisamos também conhecer quem são os heróis indígenas na luta contra a dominação portuguesa)

                O Capitão-mor Bernardo Vieira de Mello (governador da capitania, acusado de escravista, outros afirmam que ele defendeu os indígenas da sanha paulista, qual visão está certa?)

          Os Panacu-Assu (é sempre interessante conhecer mais sobre alguma etnia que é presente em nosso estado)

           O Convento de Natal (a dominação indígena não acontecia apenas dos corpos, mas também de suas almas, e para isso, a Igreja Católica queria manter um centro de formação e apoio para seus padres, a documentação permite acessar esses planos)

                Bandeirantes Riograndenses, Paraibanos e Cearenses ( você sabia que os bandeirantes não eram apenas paulistas?)

             Os Agregados de Theodósio da Rocha (as relações entre os brancos e os indígenas tem várias facetas que precisam ser abordadas, algumas delas parecem ser bem íntimas, mas será que são mesmo?)

                 Os Tapuias do Terço Paulista (alguns indígenas trabalharam em nome dos seus conquistadores. A documentação inclusive nos da acesso ao nome de alguns deles - Manoel Ribeiro, filho de Carnaúba; Cavalgante, Diogo Acauã e Manoel de Abreu - então podemos pensar em porque isso acontecia)

              A Guerra do Mocambo do Trairi (e a população negra não existia no Rio Grande do Norte? Existia sim e se relaciona com os indígenas também)

              Os Caboclos e os Tapuia (quem são os caboclos do Rio Grande do Norte? Essa é uma resposta que no mundo contemporâneo se tornou muito importante para a afirmação de uma identidade étnica)

              “Case-se com uma Índia”, disse o rei. ( a violência da colonização tem várias formas de acontecer, e uma delas envolve o controle dos corpos também).

Contudo, sabemos que muitos destes temas que são citados nas cartas não foram explorados pela historiografia norte-riograndense ainda, e que muitos também são inacessíveis por não possuírem outras documentações que remetam ao assunto tratado. Porém, a riqueza de possibilidades nos incita a tentar (nos desejem sorte). Vamos ver o quanto essas cartas nos permitem conhecer mais sobre os primeiros séculos de dominação portuguesa e como nossos povos nativos lutaram, bravamente, contra a colonização. Seja bem vindo a nossa nova aventura.