Natal das Antigas

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Quem Eram Os Tarairiú?


Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares

Homem Tapuia - Eckhout



Estes indígenas habitavam o sertão do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco e autodenominavam-se Otshicayaynoe. Estavam incluídos no grande grupo conhecido por Tapuias, “aqueles de língua travada”, que era como os nativos tupis denominavam aqueles que eram de grupos linguísticos diferentes dos seus. É importante, no entanto, que não se confunda todas as tribos tapuias como uma só. Elas se distinguiam. Uma grande confusão inclusive aconteceu por causa disso. Irineo Joffily, autor de Notas sobre a Paraíba, generalizou a descrição dos cariris como se estivessem se descrevendo todos os tapuias, e isso causou grandes problemas historiográficos no século XX.

Os tarairiú estavam divididos em várias tribos. Os cronistas coloniais citam: janduís, ariús ou pegas, sucurus, canindés, jenipapos, paiacus, panatis, javós, camaçus, tucurijus, arariús e coremas. Somente as quatro últimas não habitaram no Rio Grande do Norte. Segundo Jacob Rabbi, a principal aldeia se localizava nas margens do rio Otschunogh (hoje Açu), no vale que era chamado pelos indígenas como Kuniangeya. Outras importantes aldeias ficavam as margens da lagoa Bayatagh (hoje Piató) e Igtug (hoje Itu). Outras aldeias ainda se espalhavam pelo vale do Apodi. Porém, habitantes do sertão, mudavam constantemente de moradia, vivendo uma vida nômade. Habitavam o litoral, entre novembro e janeiro, aproveitando-se da safra de caju, depois retornavam as suas aldeias, não sem antes atear fogo ao seu acampamento de verão, preferindo viajar sempre de dia. Construíam suas casas em forma de V invertido, usando ramos de árvore, em especial a carnaúba, no centro de suas aldeias construíam grandes fogueiras. É interessante que eles levavam consigo de sua aldeia no sertão até o acampamento de verão e depois retornavam, dois troncos de árvore (provavelmente carnaúba, que chamavam corraveara) que eram chantados na frente da tenda que habitava o príncipe dos tarairiú. Estes eram carregados pelos homens adultos durante todo o trajeto, as armas, bagagens e mantimentos eram carregados por mulheres e crianças.

Carnaúba (Foto: http://www.cerratinga.org.br/carnauba/)

Eles são descritos fisicamente como homens altos e fortes, e mulheres baixas, bonitas e de pernas grossas, a pele não era tão escura, mais trigueira, possuíam cabeças grandes e largas (alguns historiadores encontram nestes indígenas a origem da “cabeça chata” nordestina) com cabelos muito negros e espessos. Raspavam todos os pelos corporais, inclusive a sobrancelha. Não costumavam andar completamente nus, as mulheres usavam um avental tecido com fibras vegetais que cobriam seus quadris enquanto os homens atavam um tecido ao pênis e testículos, formando uma tanga, também calçavam sandálias confeccionadas com a casca de árvores (especialmente a curaguá). Pintavam-se com urucum (vermelho) e jenipapo (preto), mas também usavam cocares, colares e brincos confeccionadas a partir de penas de aves, pedras semipreciosas, ossos e madeira. Também usavam estes mesmos materiais como piercings corporais, usando em narizes, bochechas e lábios. Os piercings, especialmente nas bochechas, eram sinais de status no grupo. Os primeiros furos eram realizados, no homem, aos sete anos, quando este recebia o seu nome e furava o lábio inferior; quando este se casava, eles furavam suas faces, colocando pedaços de ossos ou de madeira nas bochechas.

Sua alimentação compunha-se da caça (cobras, lagartos, antas, emas, cotias e capivaras) e da coleta de frutos e mel. Eles também plantavam roças de mandioca (na sua língua attouh), porém, abandonavam-nas quando se punham em movimento, retornando no ano seguinte para o mesmo local afim de colher o que haviam deixado crescendo, e aproveitando a cheia do Otschunogh, plantavam milho, jerimum e amendoim. Os cronistas holandeses afirma que eles não guardavam comida para o dia seguinte. Comiam tudo que coletavam imediatamente. E caso não encontrassem nada o que comer, mascavam cascas de árvores. Em março e abril, com a cheia do Otschunogh (Açu), eles passavam seu tempo de prosperidade. Faziam festas em honra aos deuses, bebiam um vinho produzido a partir de mel de abelhas, branco como leite, chamado Uvá.


Para Saber Mais:

Olavo de Medeiros. Os Tarairiús, extintos tapuias do Nordeste.