A Religião dos Tarairiú
Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares
Os tarairiú cultuavam as estrelas, como é comum com grupos nômades, especialmente a constelação hoje conhecida como Ursa Maior, que aparece ao Norte, chamada de Setentrião entre eles. Contam os mitos que este deus teria criado todo o mundo e os tarairiú, e estes viviam em um paraíso no qual eles não precisavam fazer esforço para encontrar alimento. Contudo, uma raposa teria suscitado a desconfiança do deus do Norte em relação a eles. O deus então se afastou, levando consigo a abundância do mundo. Por isso, sempre que a constelação estava visível no céu norte, os tarairiú dançavam e cantavam, em honra ao Setentrião, querendo que ele reconhecesse que a raposa havia mentido.
Outra constelação importante em sua religião eram as Plêiades, conhecidas como Sete-Estrelo.
Um deus importante era o senhor da morte, Houcha ou Uxá. Este receberia todos os homens após seu falecimento, e os inquiria sobre como eles haviam morrido. Depois da devida explicação, este deus decidia para onde cada um deveria ser enviado. Aqueles que morriam como guerreiros, sem covardias, recebiam um lugar no paraíso, um jardim repleto de delícias, onde abundava mel e peixes.
Uma deusa importante era chamada de Taiman. Na Bahia, ela apareceu sincretizada com a Nossa Senhora das Montanhas, o que pode indicar que ela representava as montanhas e as elevações que aproximavam os homens das estrelas e das constelações. Ainda alguns historiadores pensam que ela seria a própria Mãe Terra.
Eles também tinham uma adoração às pedras, chamadas de Kebrá. Quando encontravam enormes pedras em seus caminhos, faziam oferendas a estas, porque acreditavam que elas eram uma espécie de ogro que, ao acordar, e não encontrar nenhum alimento, poderiam caça-los.
O papel dos pajés como sacerdotes, feiticeiros, curadores e adivinhos era muito importante. Os pajés realizavam o papel de intermediários na comunicação com os deuses. Como diz Olavo de Medeiros, “nada do que interessava à comunidade era resolvido sem o conselho dos sacerdotes”. Os nativos acreditavam que os pajés podiam materializar os espíritos em forma de animais ou de homens. Ou, o que era mais comum, se deixavam invadir por estes espíritos para poder fazer profecias.
Para que este ritual acontecesse, os sacerdotes se isolavam nas florestas, eram as vezes acompanhados do príncipe, mas era mais cum irem sozinhos. Depois retornavam ou tomados pelo espírito ou com ele materializado, neste momento todas as fogueiras da aldeia eram extintas. Entrava então em uma tenda que servia para este fim, um templo, e aqueles que precisavam de consultas conversavam com o deus ou um antepassado que havia sido recebido entre eles.
Contam os cronistas, no entanto, que muitas vezes, por não gostarem das profecias recebidas, os tarairiú espancavam o hospede divino. O uso do tabaco era extremamente importante nos rituais de pajelança, utilizada para defumação dos consulentes, como também para curas. A corpamba também era usada nos rituais, pilada e reduzida a pó, era misturada com água e bebida pelos feiticeiros para induzir o estado de transe.
Outro método de oracular era chamado de Kenturá. Era uma cabaça com um certo número de pedras. Este jogo era mais precioso que ouro para os tarairiú. Ele era sagrado e, nas viagens, era nesta cabaça que os deuses eram transportados de um assentamento para o outro. Era responsabilidade do príncipe da aldeia levar a cabaça em segurança. Outro elemento sagrado que era levado quando os indígenas se deslocavam anualmente eram os dois troncos de carnaúba, carregados pelos homens em suas costas, por todo o trajeto, até serem chantados, novamente, no centro da nova aldeia.
Para Saber Mais
Olavo de Medeiros Filho. Os tarairiús, extintos tapuias do Nordeste.