Pedro Velho, a Alma Republicana do Rio Grande do Norte
Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares
Diz Tavares de Lyra que todos que estudam a história do republicanismo no Rio Grande do Norte chegam a conclusão de que a alma do movimento foi o Dr. Pedro Velho de Albuquerque Maranhão. Nascido em Natal aos idos de 27 de novembro de 1856, e morrendo, aos 51 anos, em 1907, em Recife. Era filho de Amarro Bezerra de Albuquerque Maranhão e Feliciana Maria da Silva Pedrosa. Descendia, da parte do pai, dos poderosos donos do Engenho Cunhaú, e do lado materno, seu avô, Fabrício Gomes Pedrosa fora fundador da cidade de Macaíba. Alguns documentos, inclusive, o fazem macaibense por causa disso. Era irmão de Alberto Maranhão, Augusto Severo e Fabrício Gomes de Albuquerque Maranhão.
Era médico e farmacêutico, tendo se formado na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1881. Neste ano também casara-se com Petronila Florinda Pedrosa, que era, na verdade, sua tia, sendo meio-irmã de sua mãe, Feliciana, filha de um segundo casamento do seu avô com a irmã do seu pai, Luísa Florinda, o que a fazia dela também sua prima. Petronila era prima, tia e esposa dele. Fabrício era seu avô e seu sogro. E seus filhos eram filhos e primos da própria mãe, e bisnetos e netos do mesmo avô. Sim, isso é muito confuso!
Voltando a sua vida pública: retornando ao Rio Grande do Norte após seus anos de estudo, em 1885 foi nomeado Inspetor de Saúde Pública e foi nomeado professor de História no Atheneu Norte-riograndense. Tavares de Lyra afirma que ele parecia agir com bastante indiferença, alheio as discussões partidárias que se davam na cidade, porém ele seria um verdadeiro revoltado que preparava uma oportunidade para sua ação patriótica. Isso teria começado a partir da fundação da Sociedade Libertadora Norte-Riograndense, em 1888, em que passou a se dedicar a causa abolicionista. Contudo, com o advento da Lei Áurea, ele se voltou a causa republicana, com a fundação do Partido Republicano em 27 de janeiro de 1889.
A ata de fundação do partido, que teria se dado ao meio dia, diz que estavam presentes muitos cidadãos natalenses (dentre eles seu primo, João, e seu irmão, Fabrício), quando o Dr. Pedro Velho pediu a palavra ao fim da reunião. Sua primeira ideia foi criar um jornal, A República, para divulgar os ideias republicanos entre o povo potiguar. A segunda foi a promoção nas cidades do interior a criação de clubes republicanos onde este jornal deveria ser lido.
Ele continua o discurso dizendo que a abolição da escravidão teria sido o primeiro passo para a vitória republicana. A abolição teria dado ao povo brasileiro a consciência de sua dignidade e força, e que por isso ele não era mais capaz de se colocar numa posição servil de súditos. Era época de haver evolução do pensamento dos brasileiros. Os espírito público estava pronto para despertar.
No seu discurso, diz Pedro Velho:
“Pois há um povo inteiro abdicar o seu poder imenso na pessoa de um homem que a lei diz irresponsável quando ele é susceptível dos mesmos vícios e das mesmas misérias que qualquer burguês? E ainda quando fosse um sábio, um justo, um santo, poderia na sua descendência, que nos é antecipadamente imposta, surgir um celerado, um monstro, e este seria por lei o nosso imperador, tendo talvez os seus áulicos dedicados, os seus panegiristas fervorosos. Nero também os teve!”
Segundo Pedro Velho, o Rio Grande do Norte saberia conhecer a verdade e abandonar a monarquia, caminhando para o futuro com a nação. “Os filhos desta província”, diz ele,”não têm pulsos para algemas nem coração para servilismos”. Nossas tradições republicanas, diz ele relembrando seus próprios antepassados, foram escritas com sangue e não poderia ser apagadas. Ele ainda conclui que a monarquia só poderia subsistir sob duas hipóteses: a primeira, diante de uma tradição histórica muito profunda, e esta só poderia ser destruída, como fez a França na Revolução, com violência; e a segunda, quando ela se dá sob cidadãos corruptos e fracos que não vêem problemas em ser humilhados. “O primeiro caso não tem aplicação ao Brasil. Tradições monárquicas não as temos, salvo se assim quiserem chamar à comédia do Ipiranga (…). A segunda hipóteses é um insulto cruel aplicá-la aos brasileiros. Pois este nobre e infeliz povo terá o coração fechado e inacessível à grande luz redentora da república?”.
Para Saber Mais:
Tavares de Lira. História do Rio Grande do Norte.