Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos
Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares
Um hábito colonial era que todo fiel católico participasse de uma irmandade. As irmandades leigas (ou seja, formadas por pessoas que não eram sacerdotes católicos, como padres, freis ou monges), também conhecidas como Ordens Terceiras, eram compostas por pessoas de um mesmo grupo social, então os ricos donos de engenhos participavam de uma irmandade exclusiva, enquanto os homens brancos mais pobres participavam de sua própria irmandade e os escravos negros participavam de sua própria confraria. Cada uma dessas era dedicada a devoção de um santo católico e se prestavam a ajuda mútua de seus filiados, realizando obras de caridade, mas sobretudo garantindo que os membros tivessem a realização de seus ritos mortuários. Como diz Xirley dos Santos, “o fato de pertencerem a uma irmandade afastava a possibilidade de que seus cadáveres fossem jogados anônimos em valas comuns no exterior da igreja”.
“A partir da contribuição anual de cada irmão, e com um caixa comum, quando morria um irmão ou irmã, a confraria tinha como 8 custear as despesas para que fossem rezadas missas e terços, com cortejo fúnebre apropriado onde os demais irmãos usavam opas e insígnias, e acompanhavam o morto até a sepultura patrocinada pela irmandade no interior das ermidas. Quanto mais alto o lugar ocupado pelo morto entre irmãos, mais cheios de regalias era o serviço funerário” (SANTOS, X.).
Uma das irmandades que encontramos aqui no Rio Grande, em seu período colonial, é a irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, uma irmandade de escravos. Mas não era única (falaremos sobre as outras em outro momento). A primeira irmandade de escravos surgiu em Lisboa, em 1460, na igreja do convento de São Domingo, em que havia uma irmandade de Nossa Senhora do Rosário que foi paulatinamente sendo ocupada por homens negros. É assim que a tradição de irmandades negras devotas a Nossa Senhora do Rosário se inicia. Porém era bem comum também que as confrarias entre escravos e libertos cultuassem santos negros como Santo Elesbão, Santa Ifigênia, Santo Antônio de Cartagena e São Benedito de Palermo.
No Brasil a primeira irmandade de escravos, também em honra a Nossa Senhora do Rosário, é de 1552, em Goiana, Pernambuco. Elas passaram a ser estimuladas pelos jesuítas em seu esforço de catequização dos negros africanos. Não temos a data de fundação da irmandade aqui em Natal (em Caicó ela é fundada em 1771), porém a documentação atesta que desde 1706 a confraria já fazia festas para recolher doações para a construção de sua igreja.
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos foi levantada em 1714. A construção pode ser caracterizada como um rococó tardio, já absorvendo as críticas do neoclássico dos setecentos ao exagero barroco. Porém sua versão atual é bem distinta daquela que foi construída pelos escravos originalmente. A ala lateral, junto com a capela de Bom Jesus do Martírio são construções de 1844, a sacristia e a torre fora adicionadas em 1904. Inúmeras camadas temporais estão expostas neste monumento.
#dica
Uma visita a esta Igreja não é completa sem você admirar, de dia, a vista do mirante do Cruzeiro, que fica logo em frente. A igreja tem uma das vistas do rio Potengi mais bonitas da cidade, principalmente para se admirar ao pôr-do-sol.