Lugar de Mulher É Onde Ela Quiser

Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares, Aline Aparecida Gomes de Oliveira,

Gilciely Costa Barbosa e Suzane da Cunha Corsino

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O Dia Internacional da Mulher é considerado por muitos apenas uma data de homenagens. Um mês dedicado a realização de eventos onde as mulheres recebem flores, são homenageadas com frases bonitas e presentes delicados. Contudo, essa data é um símbolo das lutas, reivindicações e conquistas de direitos políticos e sociais encabeçado pelo movimento feminista socialista.

No início do século XX, mulheres operárias já reivindicavam melhores condições de trabalho, o fim da exploração sexual, do preconceito e valorização da mulher. A jornada de trabalho dessas mulheres chegava a ser de 17h por dia (incluindo os domingos), com salários inferiores aos homens. Elas protestavam, levando muitas a fazerem greves reivindicando seus direitos econômicos e políticos. Dessas frequentes greves surge o mito do Dia Internacional da Mulher. Em 8 de março de 1857, tecelãs de Nova York realizaram uma paralisação por melhores condições de trabalho. As manifestantes foram então presas no seu local de trabalho, onde os donos da fábrica atearam fogo, matando cerca de 130 mulheres. No entanto, segundo Renée Coté, essa história é uma invenção (não existe nenhum registro desta greve, nem da atrocidade cometida). Ela é uma criação de um grupo socialista e feminista francês.

Mas porque criar esse mito? Em 1910 aconteceu a II Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, nos EUA, onde foi sugerido a comemoração anual do Dia Internacional da Mulher. Não foi fixada uma data, a lógica é que ela caísse no primeiro domingo de março, que naquele ano foi dia 8, porém, por muito tempo a data foi esquecida. Foi a União Soviética quem fixou no dia 8 de março de 1917 ao comemorar a greve feminina que teria sido o ponto de partida para a Revolução Russa de 1917. Foi Lênin quem fixou a data, comemorando o início da revolução comunista; e em 1922, a Terceira Internacional Comunista compartilhou a comemoração com os demais marxistas do planeta.

Temma Kaplan, em On the Socialist Origins of Internacional Women’s Day, afirma que até 1967 ele era um feriado comemorado apenas do outro lado da Cortina de Ferro, somente em países socialistas. Porém, graças aos questionamentos propostos pelo movimento feminista, no mundo capitalista, em 1975, a ONU (Organizações das Nações Unidas) adotou a data, reconhecendo-o como marco histórico do avanço das lutas das mulheres. O mundo capitalista, ainda influenciado pela Guerra Fria, não ia aceitar uma comemoração socialista, que marcava o início da Revolução Russa, então foi necessário fabricar uma nova história. Um novo motivo de comemoração. A greve foi então mantida, porém mudou-se o país, agora tudo se passaria no centro do capitalismo, os Estados Unidos; e criou-se consequências trágicas, patrões matando empregados. Mudou-se a história, mas a luta de classes continuou presente.

O dia 8 de março é marcado por grandes lutas de mulheres até os dias de hoje, apesar de sua adoção por grupos conservadores que pretendem, nessa data, fortalecer a dominação masculina, ao reforçar, por exemplo, um modelo de feminilidade. Mas comemoração é ainda palco de reflexão e percepção do preconceito, do racismo e da desigualdade de gênero que ainda estão presentes na nossa sociedade. Hoje as principais pautas a serem discutidas são o assédio e a cultura de estupro; os direitos reprodutivos, desde a educação sexual, o planejamento famíliar e o aborto; a violência doméstica, junto ao feminicídio; e a questão específica da mulher negra, que além de enfrentar o machismo, também sofre com o racismo.

Para Saber mais:

KAPLAN, Temma. On the Socialist Origins of Internacional Women’s Day

PINTO, Celi Regina Jardim. Uma História do Feminismo Brasileiro

TELES, Maria Amélia de Almeida. Uma Breve história do feminismo no Brasil.