Os Índios de Carnaval
Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares
Na década de 1920, se organizou na Ribeira, a primeira tribo de índios para festejar o entrudo. A tribo foi organizada por Augusto Brasil e se chamou potiguares. Conta Raimundo Brasil, filho do primeiro pajé, que a ideia do nome surgiu de uma conversa entre seu pai e o o jovem Câmara Cascudo. O folguedo era, nesse momento, marcado pelo som ritmado, lento e expressivo, ao som de batuques e das pisadas dos índios. Havia também representações teatrais como nos fandangos, caboclinhos e bumba-meu-rei, com personagens como os pajés, os inimigos da tribo e o espião, havendo sempre uma batalha ritualizada que termina com a vitória da tribo que nomeia o cordão.
A festa atraia muitos, e com isso o número de tribos cresceu, principalmente durante as décadas de 1950 e 1960. A segunda tribo da cidade foi nomeada como Tupinambá. Um estudo de 2012, de Alessandro Dozena e Valdemiro Severiano Filho, chamado “O Carnaval das Tribos de Índio em Natal (RN): uma reflexão geográfica”, contabilizou 11 tribos na zona metropolitana de Natal, “ressignificando a cultura indígena no contexto urbano”. Foram sete na capital (Potiguares e Guaranis, nas Rocas; Guaracis, em Mãe Luíza; Tupinambás em Brasília Teimosa; Tapuias, na Redinha; Tabajaras, em Felipe Camarão e os Gaviões-Amarelos em Igapó), duas em Ceará-Mirim (os Apache e os Comanche), uma em São Gonçalo do Amarante (os Tupi-guarani) e uma em São José de Mipibu (a Mobralino Mapabu).
Uma informação interessante que mede a importância que estas tribos tiveram para o carnaval natalense é que durante o governo de Djalma Maranhão, entre 1956 e 1959, a prefeitura da cidade do Natal pagava pelas fantasias e os instrumentos, como maneira de estimular a cultura popular na cidade. Contudo, a partir da década de 1980, quando o carnaval da cidade passou por uma profunda transformação graças a dois fatores combinados: a Tragédia do Baldo, em 1984; e a introdução do trio elétrico, os festejos de carnaval da cidade migraram para as praias e casas de veraneio. Com isso, as tribos indígenas também migraram junto. Nas praias, durante a década de 1980, as tribos uniram os papangus, originado dos reisados, e o entrudo em um festejo só.