Natal das Antigas

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Cidade em Chamas: o serviço de extinção de incêndios em Natal

Por Prof. Ms. Flademir Gonçalves Dantas



Antes da criação do primeiro serviço de extinção de incêndios em Natal, a cidade fora palco de alguns sinistros envolvendo o impiedoso fogo. A documentação, especialmente do século XIX, registra em 1839, o padre Feliciano José Dornelas, vigário, que veio a falecer vítima de um incêndio dentro do seu quarto. Já em 1841, as chamas consumiram uma Casa de Teatro, pertencente à Sociedade do Teatro Natalense, dirigida por Matias Carlos de Vasconcelos Monteiro. Na mesma praça Gonçalves Lêdo, nos arredores da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, onde foi erigido o primeiro teatro, construíram um segundo, que também ardeu em chamas numa noite de 1853. Quis o destino, ainda de acordo com Câmara Cascudo, que em 1865-66, no mesmo lugar, um terceiro teatro (de palha) fora construído e, tragicamente, “numa noite (…) pegou fogo, ardendo inteiramente, como uma tocha” (CASCUDO, p. 217-216).

Outros incêndios foram registrados como o ocorrido em outubro de 1885, no armazém dos negociantes Herman Stolzembach & Cia, situado na Ribeira, que abrigava grandes firmas importadoras e exportadoras de Natal. A tentativa de controlar o fogo contou com o auxílio de policiais militares. O jornal O Caixeiro noticiou na edição 31, de 8 de março de 1893, um incêndio no Mercado Público que ocorreu no dia 5 de março daquele ano, que acabou não tomando, felizmente, proporções consideráveis.

Esses breves registros se explicam pelo que diz o Expediente que o governador Joaquim Ferreira Chaves fez publicar o no dia 13 de setembro de 1897 no jornal A República, informando que “não existe neste Estado trabalho relativo ao serviço de extincção de incêndios”. Somente vinte anos depois, no alvorecer da república, em 1917, que o mesmo governador criou a Lei 424 criando a Seção de Bombeiros, sendo uma das características da modernidade que chegava ao estado junto a eletricidade, os bondes e as reformas urbanas.

Câmara Cascudo, que tinha como padrinho o governador Joaquim Ferreira Chaves, nos conta em seu livro autobiográfico O Tempo e Eu, que seu pai, o influente Coronel Cascudo, teve papel importante na criação da Seção de Bombeiros. Diz ele que:

Durante mais de vinte anos todas as iniciativas úteis oficiais ou particulares, tiveram em Natal a colaboração decisiva do Coronel Cascudo: ferro carril (bondes a burros), criação do bispado, orfanato, asilo de mendicidade, Companhia de Bombeiros, estrada de automóveis para o Seridó, assistência aos retirantes das secas, ligação da Avenida Floriano Peixoto, entre as Praças Pio X e Pedro Velho. (CASCUDO, 2008, p. 35)

Em outra oportunidade, no jornal Diário de Natal, em sua famosa coluna Acta Diurna, o historiador destacou mais uma vez o papel de seu pai, enquanto agente mobilizador de ideias modernizantes para cidade:

Meu Pai era o delegado de Polícia da Ribeira, Delegado por muitos e muitos anos e quasi morreu de contentamento com essa novidade. Meu pai era homem teimoso em empurrar ideias que foram realizadas. O Esquadrão de Cavalaria, o Corpo de Bombeiros, o Azilo de Mendicidade, os bebedouros publicos, foram ideais suas. (DIÁRIO DE NATAL, 12 dez. 1949, p. 2).

As condições políticas e econômicas necessárias para criação da Seção de Bombeiros caminhavam a passos largos, sendo o material e equipamentos adquiridos no Rio de Janeiro, e a sua instalação vindo a ocorrer no bairro da Ribeira, somente no dia 1º de janeiro de 1919, anexo ao Esquadrão de Cavalaria, fração das forças de segurança responsável pelo patrulhamento noturno e que se deparava por vezes, com focos de incêndio.

Inauguração da Seção dos Bombeiros.

Os primeiros bombeiros, no entanto, já estavam atuando desde antes como voluntários. Isso está registrado no Livro de Assentamentos do Esquadrão de Cavalaria, em que o chefe de polícia fez publicar um elogio ao capitão João Fernandes de Almeida, conhecido como Joca do Pará, em fevereiro de 1917, pelo auxílio prestado ao Esquadrão de Cavalaria na extinção do incêndio no armazém do senhor Joaquim das Virgens. É o Capitão Joca do Pará quem vai liderar os vinte praças lotados junto ao Esquadrão de Cavalaria.

Capitão Joca do Pará.



Para saber mais:

Flademir Gonçalves Dantas. A Cidade em Chamas: o serviço de extinção de incêndios em Natal/RN (1917-1955).

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