Casa do Padre João Maria

Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares

Foto: Blog Vento Nordeste.

Foto: Blog Vento Nordeste.

Durante a colônia as moradas eram raramente feitas em pedra-e-cal. As casas da população eram feitas de taipa, uma técnica que envolve barro e madeira, e cobertas com palha. Raramente tinham divisões internas, quando muito separavam as mulheres dos olhares curiosos de algum visitante. Homens ricos e pobres viviam nestes casebres. Diz Cascudo:

“Em fevereiro de 1614 Natal possuía doze casas. Lembro dos nomes desses moradores na manhã do século XVII. Os jesuítas tinham uma casinha de taipa e telha; Manuel Rodrigues, grande proprietário de terras, orgulhava-se de ter duas, uma delas na Ribeira; Simão Nunes, Gaspar Rabelo e o vigário Gaspar Gonçalves da Rocha, dono de muito terreno, Manuel João, Maria Rodrigues, duas vezes proprietária, Miguel João, que morava numa casa de palha e Gaspar da Silva eram os influentes da época. (...) Jorge de Araújo, que explorava uma olaria onde é a praça Augusto Severo, largou a indústria em 1608, convencido de que não seria rico fazendo tijolos”.

As construções de pedra-e-cal eram normalmente feitas pela coroa, mas demoram a chegar no Estado. A matriz, por exemplo, só começou a sua construção em 1672, com pedidos de esmola até ao rei português. O prédio da Casa de Câmara e Cadeia, onde funcionava o Senado da Câmara, foi erguido antes, em 1662. Duas lógicas explicativas têm feito os historiadores entrarem em embates para explicar porque isso acontecia. A primeira, e mais comumente utilizada, vai pela percepção que a construção em pedra-e-cal era mais cara e, portanto, somente personagens muito ricos ou muito poderosos se dariam ao trabalho de realizar essa construção. Contudo, isso iria de encontro ao que afirma Cascudo. Ele diz que os poderosos e ricos da cidade viviam todos em casas de taipa. A segunda tem a ver com o caráter impermanente das habitações coloniais. Aqui estaria se propondo que os homens coloniais eram aventureiros semi-nômades e, por isso, eles preferiam construir habitações que não necessitassem de muito tempo para serem colocadas de pé porque nenhum deles hesitaria em abandoná-las. Ambas as argumentações têm virtudes e problemas.

Mas um dos poucos prédios que também foram construídos em pedra-e-cal foi a casa que, mais tarde, habitou o padre João Maria. Em 1987 o imóvel passou ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional  (IPHAN), sendo restaurado em 1994, dentro do Programa Nacional Pró-Memória.